Imagine que sou um monte de massinha de modelar amarela, no formato de uma bolinha. Imagine que eu me ofereci para outra pessoa, desse jeito que eu sou. Uma bolinha de massinha amarela.
No começo, eu era tudo que essa outra pessoa sempre quis. Uma bolinha de massinha amarela!
Me levava pra cima e pra baixo, com um sorriso imenso no rosto.
Dizia que amava a bolinha de massinha amarela, mas tinha um porém. Não gostava que eu me misturasse com massinhas de outra cor. Mesmo que fossem bolinhas também!
E não gostava que eu fosse tão bolinha.
Aí, com o tempo, eu comecei a incomodar por ser tão redondinha e rolar pra um lado e pro outro feliz por ser a bolinha de massinha amarela que alguém amava chamar de “sua”.
E foi aí que as mãos que antes me seguravam com tanto amor começaram a mexer nas curvas dessa bolinha amarela.
Primeiro veio um lado reto. Plano. Liso. Que me assentou no chão e me impediu de me misturar com outras bolinhas de massinhas coloridas que rolavam livres por aí.
Não me incomodava, de fato. Eu passei a gostar de ter um lado plano, apesar de não mais poder rolar tão bem por aí com outras bolinhas de massinhas coloridas. Mas ia.
Me acostumei. E continuava feliz sendo essa bolinha de um lado amassado de massinha amarela.
Aí, veio o segundo lado.
E aquele sorriso, antes farto, agora passara a ser apenas um sorriso de canto de boca, justificando o “ter dois lados é o que deixa feliz as mãos que me guardam e me protegem”.
E segui feliz. Até que veio o terceiro lado. E o quarto. E o quinto.
E aí o sorriso se foi.
Eu não era mais uma bolinha de massinha amarela. Eu era quase um cubinho de massinha amarela, com apenas a lembrança das curvas em um dos lados que me recordavam que eu era uma feliz bolinha de massinha amarela que era amada por ser uma bolinha, mas que agora só era amada porquê virou quase um cubo de massinha amarela.
E assim fiquei, um quase cubo de massinha amarela, por um bom tempo.
Até que veio o último lado.
E eu já não era mais uma bolinha de massinha amarela.
E não era mais feliz, embora agora fosse muito mais amada por ser um cubinho de massinha amarela.
E vieram as lágrimas de massinha amarela. Redondas. Porquê redonda era a minha essência. Redonda era a minha alma. A minha personalidade.
E antes que deixasse de ser inclusive amarela, me libertei das mãos que antes só me protegiam e que passaram a me moldar.
E agora?
Agora sou um triste cubinho de massinha amarela tentando lembrar como era ser uma feliz bolinha de massinha amarela…
…livre pra rolar e ser o que eu quiser.
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